PYONGYANG — Em dias de tensão máxima entre Coreia do Norte e EUA, o Exército de Pyongyang disse que "devastará impiedosamente" sua nação inimiga se Washington decidir atacá-la. A declaração vem depois que o governo americano enviou navios de guerra à península coreana, numa clara demonstração de força contra o regime norte-coreano. Em reação, acredita-se, com base em imagens de satélites, que Pyongyang prepara um novo e muito potente teste nuclear, o que, por sua vez, poderia gerar uma resposta militar dos EUA.
Por sua vez, altos funcionários de Inteligência americana disseram à NBC que os EUA estão prontos para lançar um ataque preventivo com seu aparato militar caso tenham certeza de que a Coreia do Norte fará um novo teste nuclear."Nossa ação mais dura contra os Estados Unidos e suas forças navais será tomada de forma tão impiedosa, de modo que os agressores não sobreviverão", disse o Exército em comunicado.
— A Coreia do Norte é um problema, e um problema que será resolvido — disse Trump ontem na Casa Branca, em meio a especulações sobre um novo teste nuclear por parte de militares norte-coreanos.
Enquanto isso, a China pede calma aos dois lados e, nesta sexta-feira, a Rússia expressou preocupação pela perigosa escalada de tensões, pedindo moderação das duas partes para evitar provocações:
— Moscou segue com muita preocupação sobre o aumento das tensões na península coreana. Pedimos a todos os países moderação e alertamos para qualquer ação que possa ser interpretada como uma provocação — declarou o porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov, à imprensa.
TESTE NUCLEAR IMINENTE?
O programa nuclear da Coreia do Norte foi um dos principais temas internacionais da campanha eleitoral de Trump. Ontem, fotos de satélite indicaram que Pyongyang prepara um novo teste nuclear — o sexto e possivelmente mais destrutivo em uma década — que poderia ser realizado amanhã, em comemoração ao 105º aniversário de Kim Il-sung, avô do atual líder e fundador da Coreia do Norte.
O presidente determinou o envio do porta-aviões Carl Vinson e de mais três navios de guerra para a península coreana. O Japão, que alterou em setembro passado sua Constituição para permitir o envolvimento militar no exterior, afirmou que mandará navios de guerra para acompanhar a força-tarefa americana. As tensas relações entre Tóquio e Pyongyang atingiram seu ponto mais crítico este ano, após foguetes norte-coreanos caírem em águas japonesas no início do mês passado.
— É possível que a Coreia do Norte já tenha desenvolvido a capacidade de incluir ogivas de gás sarin em seus mísseis — alertou o premier japonês, Shinzo Abe, ao Parlamento.
Temeroso de uma radicalização no enfrentamento entre os EUA e a Coreia do Norte, o presidente chinês, Xi Jinping, que já esteve com Trump há uma semana na Flórida, telefonou para o americano pedindo uma resolução pacífica para o aumento das tensões na Península Coreana. No Twitter, Trump já deixara claro dois dias antes que esperava a intervenção da China, mas sugeriu estar preparado para agir de qualquer maneira.
“A Coreia do Norte está procurando encrenca. Se a China decidir ajudar, será ótimo e estou confiante de que eles lidarão com o tema da maneira apropriada. Caso contrário, resolveremos sem eles”.
O chanceler chinês, Wang Yi, reforçou o pedido de calma.
— Força militar não resolverá a questão. Em meio a tensões, devemos encontrar uma oportunidade para retomar diálogos.
Na Coreia do Norte, fontes ligadas ao governo afirmam que o país está pronto para entrar em guerra “caso os americanos voltem a bombardear”, uma referência aos ataques americanos durante a Guerra da Coreia, no início dos anos 1950, constantemente recordados pela mídia estatal.
— Os agressivos atos de guerra por parte dos EUA estão se tornando cada vez mais inconsequentes — afirmou um funcionário do governo à CNN. — Governos americanos anteriores atacaram países que não tinham armas nucleares, e o de Trump não é diferente. Estamos à beira da guerra.
O jornal estatal chinês “Global Times” também indicou que o risco de conflito militar é o maior desde o primeiro teste norte-coreano em 2006. Segundo o diário, o recente ataque ordenado por Trump à base aérea de Al-Shayrat — o primeiro dos EUA às forças do ditador Bashar al-Assad, acusado de usar armas químicas — dá mais peso às advertências do presidente sobre o uso da força contra Pyongyang.