A derrubada de florestas é certamente um dos maiores problemas ambientais da nossa era. A Amazônia, maior floresta tropical do mundo, sofre diretamente com esta realidade, devido a uma linha de pensamento que coloca os ganhos econômicos advindos dos desmatamentos acima das perdas da natureza. O artigo “Análise da relação entre desmatamento e bem-estar da população da Amazônia Legal”, publicado na edição de janeiro/março do ano passado na Revista de Economia e Sociologia Rural, propõe-se a avaliar se as possíveis melhorias de renda resultantes de derrubadas se refletem na qualidade de vida da população ou não.
Segundo os autores Rodolfo Coelho Prates, professor titular dos Programas de Mestrado e Doutorado em Administração da Universidade Positivo, e Carlos José Caetano Bacha, professor titular da Universidade de São Paulo, o ritmo de desmatamento na Amazônia teve reflexos diretos no crescimento do Produto Interno Bruto (PIB – soma das riquezas produzidas) da região. “A afluência de pessoas e de capitais, associada à construção de eixos rodoviários, transformou a paisagem de grandes parcelas da região por meio da retirada da cobertura vegetal, seguida da implantação de atividades agropecuárias e da construção de cidades, por exemplo. Disso resultou que, entre 1960 e 1995, o PIB da região amazônica cresceu 12 vezes, enquanto o PIB do Brasil como um todo registrou crescimento de pouco mais de cinco vezes”, afirmam no artigo.
A consequência negativa deste crescimento é que, da década de 70 até 2006, foi registrada uma área desmatada acima dos 70 milhões de hectares, o que, compara o artigo, “equivale a uma área superior à soma das áreas dos estados que compõem a região Sul do País”.
Buscando investigar se de fato a ação de desmatar gera ganhos efetivos à sociedade, mesmo sendo certo que há perda ambiental, os pesquisadores fizeram um estudo de caso com o Pará. Essa localidade, dizem os autores na publicação, apresenta os maiores índices de desmatamento entre os estados da Amazônia Legal. Ao fim da análise, que considerou o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH – estabelecido a partir da soma do PIB per capita com a esperança de vida (longevidade) e nível de educação da população estudada), os pesquisadores chegaram à conclusão de que, mesmo que a diminuição da área de desmatamento acarrete numa queda de renda, não há diminuições significativas em determinantes do bem-estar (saúde e educação).
Para os pesquisadores, a queda na renda associada ao trabalho agropecuário, limitado por restrições ao desmatamento, não se estabelece necessariamente como um padrão se, “juntamente de restrições ao uso do fator terra, forem adotadas tecnologias poupadoras desse fator, o que implica tecnologias com maior produtividade dos fatores trabalho e capital”. Além disso, ainda que no Amapá, Maranhão e Pará haja relação direta entre o fator terra e determinação de renda, na região amazônica como um todo tal ligação não foi constatada. Assim, diz o artigo, pode-se concluir que “não haveria a necessidade de incorporar continuamente novas áreas à agropecuária via novos desmatamentos, bastando otimizar o uso das áreas já desmatadas por meio da adoção de técnicas que aumentem a produtividade do capital e trabalho por hectare de terra”.
Ao mesmo tempo, nos estados em que o fator de expansão agropecuária aparece muito fortemente atrelado ao crescimento econômico, os autores sugerem medidas que compensem a menor disponibilidade de terras, a saber: (1) “política de compensação monetária por parte do estado aos produtores rurais, por meio de programas assistencialistas” e (2) “redefinição dos instrumentos de política agrícola (caso do crédito rural, preços mínimos e de pesquisa agrícola), para serem orientados na região amazônica para a produção florestal sustentável”, de forma que a renda da agropecuária poderia ser, parcial ou totalmente, “mantida pela exploração da floresta e não pela conversão da floresta em agricultura e pecuária”.