O Sindicato dos Taxistas de Mato Grosso do Sul preparam ofensiva contra a vinda da Uber para Campo Grande. Para o presidente do Sintaxi, Bernardo Quartin Barrios, “a concorrência é desleal” e eles exigem que o poder público imponha restrições ao serviço.
Desde segunda-feira (29), no Hotel Deville, representantes da empresa se reúnem com interessados em serem motoristas em Campo Grande. O primeiro encontro reuniu 65 taxistas auxiliares, os que não têm alvará próprio, que ouviram explicações sobre o funcionamento do aplicativo e receberam a promessa de que em um mês as corridas começam na Capital.
Assim que recebeu a notícia de que a Uber quer se instalar em breve na cidade, a diretoria do Sintaxi marcou reunião para debater o assunto. Na tarde de ontem (30), os representantes da categoria decidiram que vão intensificar as ações para exigir que autoridades do município imponham restrições a implantação do sistema na Capital.
O presidente do sindicato diz que vai procurar a Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito), a Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos), a Câmara Municipal e se for o caso, a Justiça. “Nossa assessoria jurídica já está avaliando isso também”, destacou Bernardo.
O sindicalista explica que taxistas pagam impostos e diversas taxas para trabalhar e que motoristas da Uber não teriam de arcar com estes valores. “Quem vai vistoriar? Quem garante que esse carro está em boas condições? Quem garante que o motorista é de boa índole. É um perigo. Estamos numa zona de tráfico de drogas, isso poder ser usado para lavagem de dinheiro. O que é barato hoje, pode sair caro amanhã”, faz o alerta.
Para Bernardo, a cidade não lucraria com a Uber. “Vão trabalhar sem tributar. Só tem vantagem para a empresa, não para a sociedade. Acho que isso tem de ser muito bem pensado e repensado. Mas, se vierem, não vamos deixar de existir, teremos de sobreviver”.
No Mato Grosso do Sul, projetos já chegaram a ser propostos para vetar a regulamentação do aplicativo na Capital. O da Câmara Municipal, proposto pelo vereador Marcos Alex (PT) em outubro de 2015, ainda está em tramitação.
Já o legislativo estadual chegou a aprovar uma lei que proibia o transporte remunerado de passageiros em carros particulares, mas o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) vetou a medida.
Revolta – Por onde passou até agora, o aplicativo deixou um rastro de revolta entre os taxistas.
Anteontem mesmo, segundo informações do site Estado de Minas, um dos participantes do serviço foi atacado por taxistas em frente a um shopping, esfaqueado e teve seu carro depredado. Em São Paulo, no ano passado, os taxistas fizeram manifestações e afirmam que o movimento caiu 45% desde que a Uber chegou.
O presidente do sindicato afirma que não pode prever o comportamento dos colegas. “Só posso responder por mim e dizer que o sindicato é contra todo tipo de violência. Mas, não podemos ficar parados para sermos agredidos também. O próprio Poder Público nos agride quando permite que uma concorrência desleal venha se instalar na nossa cidade”, enfatizou.
Polêmica – Kazunori Miyashiro, 62, é taxista há 18 anos e contra a vinda da Uber para Campo Grande. “É uma empresa e como toda empresa, não pode chegar em uma cidade sem arcar com todos os impostos necessários em determinado segmento. Tenho custos com licenciamento, ocurso de especialização, vistoria, a taxa para usar o ponto que é de pelo menos R$ 700 por ano. Nada disso é cobrado na Uber”.
Já o taxista Ricardo Bortoleto, 39, não esconde a felicidade com o anúncio da chegada do aplicativo. Ele esteve ontem na reunião dos representantes do App no Hotel Deville e já diz orgulhoso que é um motorista Uber. “Já me cadastrei e fico muito feliz com a vinda da Uber para cá, porque vai acabar com o monopólio dos frotistas da cidade”, disse.
Ele passou detalhes discutidos durante a reunião de ontem. “A modalidade do Uber que querem trazer para cá é o Uber X. Nela, os carros tem modelo a partir do ano de 2008, todos devem ter quatro portas e ar-condicionado”, conta.
Algumas diferenças – Motoristas autônomos oferecem “caronas pagas”, mas a diferença para os taxistas é que eles não têm ponto fixo e recebem os chamados pelo aplicativo de celular. Como a conexão motorista-passageiro é direta, as corridas ficam mais baratas e os condutores acabam lucrando mais também.
A empresa recebe percentuais nos valores cobrados dos clientes e taxas para cobrir os gastos com telefones, mas o restante fica para os motoristas, por isso, para os auxiliares seria vantajoso, uma vez os cerca de 450 deles pagam até R$ 250 ao dia para usar os táxis que rodam a Capital.
O que tem feito sucesso em outras cidades é que os condutores dos “táxis pretos” estão sempre bem arrumados e oferecem, além de carros novos, alguns luxos aos usuários, como carregadores de celular, wi-fi e água.
Como os clientes podem avaliar os serviços pelo aplicativo, quando mais conforto o motorista oferecer, mas requisitado ele pode ser.
Exigências – Diferente do que o presidente do Sintaxi disse, para se cadastrar como motorista parceiro, é preciso ter carteira de motorista com licença para exercer atividade remunerada (EAR), e passar por checagem de antecedentes criminais em todos os estados do Brasil, segundo a assessoria de imprensa da empresa.
Os carros precisam ser cadastrados com a apresentação de CRLV (Certidão de Registro e Licenciamento do Veículo) e bilhete de DPVAT do ano corrente.