Folha.com | 20 de setembro de 2011 - 10:31

Montadoras não descartam aumento no preço de carros nacionais

A Anfavea (associação das montadoras com fábrica no Brasil) não prevê elevação nos preços dos carros devido à menor concorrência dos importados com o aumento do IPI para veículos que não tiverem pelo menos 65% de conteúdo nacional, medida governamental para proteger a indústria local, mas também não descarta o aumento para o consumidor.

Questionado nesta segunda-feira se as montadoras se comprometeriam a manter os preços pelo menos no nível atual, o presidente da entidade, Cledovino Belini, disse que "se fizermos [esse] compromisso, é cartel".

A mudança pode representar reajuste de 25% a 28% nos preços para o consumidor que comprar um carro que tenha menos de 65% de componentes fabricadas no país. O IPI sobe 30 pontos percentuais. Atualmente, o tributo varia de 7% a 25%, dependendo da potência e do tipo de combustível. Agora, ficará entre 37% e 55%. Para as montadoras que cumprirem a nacionalização exigida, não haverá mudança do imposto.

Para ele, o consumidor não será prejudicado, apesar da elevação de 30 pontos percentuais no IPI, que vai refletir diretamente no valor dos modelos importados que não são trazidos da Argentina ou do México, diminuindo o mix de produtos que cabe no bolso do consumidor.

"Com a concorrência que nós temos, o mercado limita qualquer aumento de preço. O compromisso da empresa é manter ´market share´ [participação nas vendas]", acrescentou.

META

Embora o aumento no IPI tenha sido elaborada em parceria com a Anfavea, Belini afirma que até associados da entidade podem não atingir as metas e serem penalizadas com 30 pontos percentuais de acréscimo na alíquota do imposto. "Vamos saber em 45 dias [quais e se serão]", disse.

Para o executivo, a "medida é dura, mas, para o Brasil, é necessária". No intuito de reforçar que medidas protecionistas não são exclusividade do governo brasileiro, lembrou até que "a Suíça controlou o câmbio".

"O mundo está mudando. Não é mais aquele mundo tranqüilo que vivíamos", completou.

Para Rogelio Golfarb, um dos vice-presidentes da Anfavea também presente na coletiva desta segunda-feira, "essa medida mandou um recado: o modelo de negócio baseado na importação não vai ser privilegiado".

O tom da coletiva foi justamente reforçar a importância da indústria nacional, apesar da medida governamental não prever a penalidade para os carros produzidos na Argentina e no México devido aos acordos automotivos com esses dois países, permitindo a isenção no Imposto de Importação de 35%, cobrado de carros chineses e coreanos, por exemplo.  

MÉXICO

Uma pesquisa da Anfavea divulgada hoje mostra que o aumento do IPI pode beneficiar a produção na Argentina e principalmente no México.

O país tem acordos automotivos com esses dois países com regras menos rígidas do que aquelas que passaram a valer na sexta-feira, no intuito de fortalecer a indústria nacional, pois a exigência é de 60% de peças produzidas em quaisquer das duas partes: no Brasil e na Argentina ou no Brasil e no México.

Já os carros produzidos no Brasil devem ter 65% de peças nacionais para evitar a elevação de 30 pontos percentuais no tributo, entre outras regras.

Cledorvino Belini, presidente da Anfavea, admitiu que "o México é mais competitivo, mas há toda uma estrutura logística que deve ser levada em consideração".

DISCUSSÃO

A ministra Miriam Belchior (Planejamento) teve que defender hoje a medida que elevou o IPI para carros importados.

"Adotamos essa medida, mas não significa que não possamos refletir e melhorá-la", afirmou Belchior. A ministra, entretanto, deixou claro que não estão previstas emendas até o fim da vigência da medida, em dezembro de 2012.

"Ninguém aqui está propondo mudança em uma medida que foi recém-lançada" disse. "Se for necessário, a gente faz mudanças, mas só depois do prazo de vigência da medida."