Correio do Estado | 1 de agosto de 2011 - 08:16 Mudando de vida

Chamados de loucos pelos amigos, eles trocaram o mundo por um negócio em Bonito

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  "Vocês são loucos de ir para o Brasil", disseram os amigos da portuguesa Ana Maria Silvestre, 49, e do belga Didier Jacob, 48, quando souberam que eles venderiam tudo para abrir uma pousada em Bonito, capital turística de Mato Grosso do Sul, em 2007.

 Hoje, a família de Ana, que mora na cidade portuguesa de Cintra, lamenta não ter vindo junto. "Eles falam ‘aqui tá péssimo’, como vocês fizeram certo de ter ido", conta a empresária, às gargalhadas.

A cidade paradisíaca, que bateu recorde de turistas no ano passado (180 mil), tem ímã para estrangeiros em busca de tranquilidade — na vida e nos negócios. O alemão Frank Stolzenberg, 57, deixou a vida de recém-aposentado na Escócia, onde trabalhou como geólogo numa multinacional, para curtir a rotina da cidade de 19,5 mil habitantes.

No começo ele teve "arrepios", admite, por causa do tamanho do lugar, mas hoje sente-se brasileiro. "Ando mais devagar e minha pele está mais escura, por causa do sol. Fui para a Alemanha, nesse ano, e achavam que era um brasileiro que falava muito bem alemão", conta o dono de pousada, rindo à brasileira. "A vida aqui é do lado de fora, não dentro, como na Europa", compara.

Bonito atrai também brasileiros como o gaúcho Alex Furtado. Dono de uma agência de turismo e investidor de hotéis, ele viveu em alto mar por dez anos, época em que escreveu sobre viagens para a edição brasileira da Playboy. Enjoado da solidão, e com mais conhecimento em selva do que em gestão (ele viajou dois anos e meio pela América do Sul, num jeep), Alex decidiu aventurar-se no que hoje é a maior agência de turismo da cidade, a Ar.

O negócio cresce 50% e ele não quer mudar de vida. Não ficou milionário, mas pode manter as portas abertas 24 horas, sem medo de assalto, e criar o filho com tranquilidade. "Bonito é um lugar para ser, não para ter", filosofa.

Ana e Didier sentem-se à vontade na Pousada Moinho dos Ventos, comprada de um holandês. O lugar, no pé da Serra da Bodoquena, é amplo, arborizado e tem, claro, uma réplica, em miniatura, de um típico moinho da Holanda. O jardim tem atenção especial de Didier, que é tão brasileiro quanto a caipirinha — embora sua bebida preferida sejo o licor Ricard, trazido da França.

Quando esteve no Brasil pela 1ª vez, em 2007, o belga, ex-dono de marcenaria, chorou para não voltar. Um dos motivos das lágrimas: o estilo light de vida por aqui. "Na Bélgica eu trabalhava 12 horas por dia, cansou", compara Didier. O sotque entrega  colonização francesa da Bélgica.