Correio do Estado | 26 de julho de 2011 - 08:16 Público Alvo

Com dólar mais barato e ausência de turistas, Bonito mira a classe C

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A Prefeitura de Bonito (MS) tenta convencer os turistas motorizados a respeitar a faixa de pedestres. A campanha está no rádio. Há, porém, uma preocupação mais palpitante do que o trânsito que, em todo o ano passado, registrou só dois atropelamentos: o baixo fluxo de turistas na alta temporada de julho. Culpa do dólar mais baixo desde 1999, que abriu as portas do exterior para os brasileiros.

"É mais fácil ir a Miami do que ir a Bonito", diz o secretário de Turismo, Indústria e Comércio, Augusto Barbosa Mariano, sobre a desvantagem causada pelo câmbio. As pechinchas do Paraguai também atraem as famílias das classes A e B, ainda o principal público do município.

A fuga dos endinheirados é compensada pela crescente presença da classe média, que mudou o trânsito, segundo o secretário. "Você vê pelo tipo de carro, pelo tipo de passeio que fazem, a forma como falam, como se comportam...", diz, sobre o aumento da presença da classe C.

O casal de Santos (SP) Leonardo Florêncio, comerciante, e Suellen, professora, deram uma pausa na rotina em Bonito no fim de semana. Acharam os preços dos passeios "salgados", mas reconheceram que tamanha infraestrutura é cara. "Se você quer o melhor tem que pagar mais", admitiu o comerciante.

O setor adapta-se aos poucos à mudança de público e estuda mais produtos para a classe C. O resort da cidade, o Zagaia, agora parcela em até dez vezes a diária de R$ 530, para o casal, na alta temporada. Segundo o dono, Guilherme Miguel Poli, até 2008, apenas 20% dos hóspedes eram de classe média; hoje, eles são 50%. O consumo nos quartos é menor e há vinhos de R$ 40 ao lado dos de R$ 100.

"Eles compram menos, ou trazem de fora", constata Poli, que oferece transporte grátis para os clientes que chegam a Campo Grande. Com menos dinheiro para gastar nas atrações, como grutas e mergulhos, eles passam mais tempo no hotel, que, a pedido nova clientela, fará um bar dentro da piscina.

Em um voo de 86 passageiros, que a CVC freta para a cidade, 60% ficam em hoteis mais baratos, calcula o receptivo da operadora Diones Nunes, da Tucano Tur. Desde 2009, os fretamentos baratearam os pacotes. Na baixa, eles custam R$ 998, em dez vezes; na alta, saem por R$ 1,6 mil. Em grupos de até 40 pessoas, tudo sai mais em conta, mas acaba a exclusividade e aumentam as filas nos passeios.

 Sem recorde

Mesmo com o "povão", Mariano não acha possível manter o ritmo de crescimento no número de turistas, que bateu recorde em 2010 (180 mil pessoas) e cresceu 17% no 1º semestre deste ano (138,1 mil pessoas). No último ano, eles deixaram R$ 120 milhões por lá, mais do que o triplo do orçamamento municipal (R$ 35 milhões). "Se fecharmos este mês igual a julho do ano passado (35,8 mil turistas), está bom", contenta-se o secretário. A estimativa anterior era de 8% de alta.

O Festival de Inverno, que começa nesta quarta, não é garantia de salvação para o ano, embora costume receber 30 mil pessoas, público 50% maior que a população local (19,5 mil). A grande maioria é de sul-mat0-grossenses.

Ainda sem entender bem o fenômeno (nacional) da classe C, Bonito quer adequar-se para recebê-los. O Conselho Municipal de Turismo (Comtur) vai debater, no mês que vem, como fazer os os atrativos caberem no orçamento de famílias com menos poder de fogo.

O presidente do Comtur, Cícero Peralta, além do câmbio desfavorável, vê problemas na concorrência com os sites de compras coletivas, que barateou ainda mais o exterior. Sua pousada, que costuma ter 85% de lotação em julho, está com 35%.