. | 27 de outubro de 2020 - 08:48 AUDIOLIVROS

Audiolivros ganham espaço no Brasil

Audiolivros ganham espaço no Brasil

FOTO: Pixa Bay

Em 1878, logo após ter inventado o fonógrafo, o inventor norte-americano Thomas Edison teve uma ideia. Certo dia, para testar o aparelho, recitou a primeira estrofe do poema “Mary Had a Little Lamb”. Ao criar o primeiro registro de áudio da palavra falada, Edison sonhou que essa tecnologia poderia um dia permitir que um livro inteiro fosse gravado nesse formato de mídia.

Hoje, quase 150 anos depois, ele provavelmente ficaria impressionado com a quantidade de audiolivros à disposição no mercado. De obras de não-ficção aos últimos lançamentos de romance, passando por audiolivros especializados em determinados esportes e tudo mais que se possa imaginar, atualmente já são mais de 400 mil títulos disponíveis para download. 

Com a oferta e demanda em ascensão ao redor do mundo, os audiolivros estão vivendo um boom. A consultoria Deloitte prevê que o mercado global crescerá 25% em 2020, atingindo US$ 3,5 bilhões. Comparado com as vendas de livros físicos, que devem ter um faturamento de US$ 92 bilhões, a indústria do áudio ainda é relativamente pequena, mas está crescendo a passos largos. 

Nos Estados Unidos, maior mercado produtor e consumidor de audiolivros, uma em cada cinco pessoas já ouve ao menos um audiolivro por ano, sendo que a média anual subiu para 8,1 títulos em 2020, contra 6,8 no ano anterior. Em 2019, as vendas fecharam em US$ 1,2 bilhão, um aumento de 16% – o que representa oito anos de crescimento contínuo na casa dos dois dígitos, de acordo com a associação de editores de áudio dos EUA. 

 

Brasil também registra crescimento na demanda

A mesma tendência positiva pode ser observada no Brasil. Os audiolivros e livros digitais, também conhecidos como e-books, representaram 4% do faturamento total do setor editorial brasileiro em 2019, pegando carona no aumento do uso de smartphones entre a população, abertura de novas empresas e aumento do catálogo. Além disso, as versões digitais podem ser até 80% mais baratas que as impressas

Segundo uma pesquisa da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), em parceria com a Nielsen Book, as vendas de audiolivros e e-books tiveram um faturamento de R$ 103 milhões no ano passado – um crescimento de 140% com relação a 2016, quando foi realizado o último Censo do Livro Digital. 

Embora os e-books tenham sido responsáveis por 98% desse total e os audiolivros por apenas 2%, o fato é que o formato em áudio está conseguindo atrair novos públicos. Além dos leitores que trocaram o formato tradicional, em papel, pela versão em áudio – em sua maioria pessoas que gostam de ler, mas não tem tempo para isso – os audiolivros chegam a ouvintes que normalmente não costumam comprar livros físicos. 

Mais importante: os audiolivros têm um forte apelo entre as gerações mais jovens, que cresceram com fones nos ouvidos, especialmente os millenials (nascidos entre 1981 e 1996) e a geração Z (a partir de 1997). Um levantamento feito pela plataforma Auti Books aponta que a maior parte dos seus usuários (42,6%) está na faixa etária entre 25 e 34 anos, sendo que 72% deles ouvem os audiolivros no smartphone.

 

Tendência é um alívio para a indústria editorial

Para a indústria editorial, que amargou uma série de números negativos nas últimas duas décadas, o boom do áudio é considerado uma boa notícia. Embora as vendas de audiolivros estejam aumentando e as de livros físicos diminuindo, não é certo que as duas coisas estejam relacionadas. Segundo a Associação das Editoras dos EUA, a popularidade crescente dos audiolivros coincide com o aumento dos podcasts e mostra uma crescente demanda por conteúdo de áudio.  

Isso tem levado as editoras a investir cada vez mais recursos nesse formato, construindo equipes dedicadas e criando estúdios internos para produzir versões em áudio cada vez mais criativas e inovadoras. Também de olho nesse filão, em 2019, a Feira do Livro de Frankfurt, principal evento do mercado literário mundial, incluiu pela primeira vez um espaço de 600 m² dedicado inteiramente a audiolivros e podcasts.