Folha.com | 12 de julho de 2011 - 15:15

Fósseis podem invalidar teoria de povoamento da América pelo estreito de Bering

Recentes escavações de restos ósseos de animais com 29 mil anos de idade, no Uruguai, podem jogar por terra a teoria de que o povoamento da América aconteceu pelo estreito de Bering há cerca de 12 mil anos.

Segundo um comunicado da Presidência uruguaia, no sábado (9), uma equipe de especialistas da Faculdade de Ciências da Unidade da República começou a escavar neste ano uma região na qual há vários anos foi detectada a presença de fósseis de vários animais pré-históricos.

"Nesta primeira escavação descobrimos milhares de ossos pertencentes a entre oito e dez gliptodontes, preguiças e um toxodonte em um só lugar, em estado de conservação maravilhoso", assegura Richard Fariña, que lidera o grupo de paleontólogos.

Os trabalhos, que são realizados no Arroio Vizcaíno da localidade de Sauce, a cerca de 35 km a oeste de Montevidéu, são a continuidade dos primeiros estudos realizados na região em 1997, quando se descobriu pela primeira vez a existência dos fósseis, relata o boletim.

ARMAS FABRICADAS

Os problemas econômicos impediram dar continuidade à pesquisa, apesar de o paleontólogo espanhol Alfonso Arribas ter relatado em 2001 a descoberta de marcas em um osso, concretamente uma clavícula, que poderia ser o resultado de cortes realizados com armas criadas pelos homens.

Fariñas argumenta agora que as marcas têm formato de "V". Se tivessem sido causadas pelas garras de um animal, teriam a forma de um "U", assegura. Além disso, foi encontrada uma área de fragmentos petrificados, que poderiam ser utensílios de fabricação humana.

A datação com testes de carbono 14 da clavícula que apresenta essa marca determinou que ela tem 29 mil anos.

"Se ficar demonstrado que as marcas nos ossos efetivamente foram provocadas por ferramentas humanas, seria necessário renovar o paradigma existente, que estabelece que o povoamento americano aconteceu há 12 mil anos, do Norte para o Sul, pelo estreito de Bering", diz Fariña.

As autoridades do departamento de Canelones, onde fica Sauce, pretendem criar um museu nessa cidade para expor o material colhido.

"Somos otimistas quanto aos resultados que possamos obter, mas serei prudente porque ainda não demonstramos fidedignamente a hipótese da presença humana na América há 29 mil anos", acrescentou o especialista.