DA REDAÇÃO | 23 de janeiro de 2019 - 13:51 POLÍCIA

Suspeito de 58 golpes, preso 'artista' volta a agir de dentro da cadeia

Polícia diz que prejuízo com dezenas de vítimas já ultrapassou R$ 1 milhão.

As 10 condenações por estelionato e 58 boletins de ocorrência parecem não "assustar" Valfrido Gonzales Filho, de 40 anos, que é conhecido como preso "artista" e aplicou novo golpe, causando prejuízo de R$ 16.118,00 a uma vítima de 64 anos, de acordo com a polícia. A mulher está com o marido internado, na Santa Casa, em Campo Grande, sendo que recebeu ligação do golpista e acreditou estar falando com o médico dele.

"O marido da vítima está internado no hospital e ela mora em Rio Verde, no interior do estado. O Valfrido então ligou e se passou por médico, convencendo a vítima a fazer depósitos, tendo como destino uma agência bancária de Dourados, cidade onde ele está preso. Foram 6 depósitos feitos, que totalizaram a quantia acima. Agora, estamos fazendo um alerta sobre ele", afirmou ao G1 o delegado Wellington de Oliveira, que presidiu diversos inquéritos contra o preso.

O boletim de ocorrência foi registrado no dia 17 de janeiro deste ano, às 21h53 (de MS), na Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário (Depac) Centro, em Campo Grande. Em nota, a Polícia Civil orienta que funcionários de hospitais e clínicas em geral não passem informações de pacientes ou o estado de saúde, bem como cronograma de cirurgia, já que está ocorrendo a reincidência de golpes financeiros.

Ainda conforme a polícia, está armazenado um cadastro de pessoas que se passam por médicos e colhem informações de clínicas para aplicar golpes nas famílias, ligando no telefone e solicitando depósitos, com a desculpa do dinheiro ser referente a falsos tratamentos e com descontos.

Segundo o delegado, que atuou como titular da 1ª Delegacia de Polícia, de 2011 a 2015, Valfrido foi investigado e investigado por mais de 43 estelionatos. "Todos os inquéritos contra ele apontavam o mesmo modus operandi, se passando por médico e contando o golpe da desgraça. Valfrido inclusive informava que a própria vítima acabava passando informações sobre o estado de saúde do parente internado. Ele responde ao artigo 171, do Código Penal Brasileiro”

Em 2014, quando a polícia instaurou o 41° inquérito, para tentar barrar os crimes praticados por ele, houve o pedido de transferência de Valfrido para Dourados, na região sul do estado. Em seguida, a intenção era encaminhá-lo para o presídio federal. Na ocasião, a polícia já estimava o prejuízo de R$ 1 milhão para as vítimas.

“A novidade deste inquérito, instaurado no dia três deste mês (dezembro de 2014), é que o golpista é acusado agora de chefiar uma organização criminosa. Ou seja, agora, com a esposa, filhos e amigos ele delimitava o papel de cada no golpe. Um abria a conta, outro pegava o valor e assim ocorria toda a lavagem do dinheiro”, afirmou na ocasião o delegado.

No ano anterior, uma aposentada de 45 prestou depoimento e relatou que "viveu momentos de terror". Ela, que preferiu não ter o nome divulgado, diz que na época a filha, de 28 anos, estava com um tumor no pulmão. Já Valfrido estava no Presídio de Segurança Máxima.

Além de Campo Grande, a polícia localizou vítimas de São Paulo e Paraná. No início das investigações, a polícia suspeitava de cerca de 2 golpes ao dia.

Amor bandido

A investigação também apontou que, tudo começou quando Valfrido voltou a namorar uma funcionária, de um hospital da cidade. "Foi a partir daí que ele mudou o modo de agir. A mulher disse pra ele que o que daria dinheiro era ludibriar parentes de pacientes internados. Ela então repassou uma lista de médicos plantonistas e ele começou a cometer novos crimes. A partir daí, passou a se passar por desembargador, delegado, vereador, pastor, padre e outros personagens nos quais ele até debocha das vítimas", finalizou o delegado.

Uso de telefonia celular

Em nota, a A Agência Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (Agepen) disse que vem buscando medidas eficazes de combater o uso de telefonia celular por detentos, com fiscalizações constantes e uso de tecnologia. Recentemente, está sendo implantado, em presídios do estado, Scanner corporais para possibilitar maior eficiência na revista de visitantes e demais pessoas, que adentram as unidades prisionais. Os novos equipamentos vão reforçar a estrutura de revista já disponibilizada, que conta com aparelho de raio –x para pertences.

Além disto, também são realizadas operações pente-fino para apreensão de celulares e outros materiais ilícitos que, porventura, adentrem os estabelecimentos penais. Além disso existe um trabalho integrado da Gerência de Inteligência do Sistema Penitenciário aos demais outros organismos afins, para identificação e punição dos reeducandos que utilizam de aparelhos celulares nas prisões.