DA REDAÇÃO | 12 de novembro de 2018 - 17:01 CARROS

Grandes Brasileiros: Volkswagen Gol GTi completa 30 anos

O Gol GTi representou um marco para a indústria automotiva brasileira.

Ele chegou para abrir um novo capítulo na indústria automobilística nacional. Há exatamente 30 anos, no Salão do Automóvel de 1988, a Volkswagen apresentou o Gol GTi.

O “i” minúsculo identificava a presença da injeção eletrônica, e o GTi era o primeiro automóvel nacional a vir equipado com ela.

© Fornecido por Abril Comunicações S.A. A cor azul Mônaco era exclusiva do hatch esportivo

Sucesso imediato. O Gol com injeção vinha num exclusivo azul-marinho, oficialmente azul Mônaco, que contrastava com o prata na parte inferior da carroceria.

A caracterização esportiva era composta por faróis auxiliares na dianteira, aerofólio na traseira e rodas emprestadas do Gol GTS. E como andava!

© Fornecido por Abril Comunicações S.A. A injeção Bosch LE-Jetronic não era tão moderna, mas valeu pelo pioneirismo. O GTi teve o mérito de acelerar a chegada da tecnologia aos concorrentes. E acelerar era com ele

O texto da revista destacava que bastava virar a chave e o motor pegava na hora, sem ratear: “Nem sequer tem afogador”. “Além de tudo, o carro anda, anda e o motor parece não esquentar. Coisas do cerebrozinho que regula a injeção.”

A surpresa veio na medição de consumo: 8,5 km/l no trânsito urbano e 13,3 km/l na estrada: “Nada mau para um esportivo, com pneus largos, motor 2.0 e câmbio de relações curtas”, considerava o texto.

© Fornecido por Abril Comunicações S.A. Com injeção, o motor 2.0 rendia 120 cv e compensava a aerodinâmica deficiente

O motor do Santana garantiu a empolgação na prova de desempenho: alcançando 174 km/h e fazendo 0 a 100 km/h em 10,4 segundos, o GTi tornava-se o mais rápido carro nacional, desbancando até mesmo o todo-poderoso Opala de seis cilindros, que tinha o dobro de cilindrada.

A reportagem fazia menção ao fato de a injeção chegar ao Brasil com atraso em relação aos países desenvolvidos, mas festejava o pioneirismo. O sistema fornecido pela Bosch era o LE-Jetronic, analógico. Países desenvolvidos já contavam com sistemas digitais, mais modernos.

© Fornecido por Abril Comunicações S.A. O interior utilizava tons escuros e tinha o clássico volante “quatro bolas”

O GTi era rápido, gostoso de dirigir e econômico. Nele, o motor AP-2000 rendia 120 cv e tinha torque de 18,3 mkgf. Eram números bem superiores aos do GTS 1.8 (99 cv e 14,9 mkgf).

Para segurar tanto ímpeto, o GTi foi o primeiro Volkswagen com discos de freio ventilados na dianteira.

© Fornecido por Abril Comunicações S.A. Bancos Recaro do Gol GTi apoiavam bem o corpo

Por dentro, o acabamento em tons escuros deixava claro que se tratava de um esportivo. O volante revestido de couro era uma novidade. Os bancos Recaro com encostos de cabeça vazados, outra. O painel exibia grafismos vermelhos.

Na metade de 1989 o GTi foi colocado numa prova de fogo contra o Kadett GS – a versão esportiva do carro que a Chevrolet acabava de lançar no Brasil. Os dois foram capa da edição de junho, sob o título “Os mais rápidos do Brasil”.

© Fornecido por Abril Comunicações S.A. Mostradores do Gol GTI, modelo 1989

O Kadett era um projeto muito mais moderno, em sintonia com o que se fazia na Europa, mas a versão nacional ainda não tinha injeção eletrônica. Ela só viria depois da virada da década, quando ele se tornaria GSi. Porém, oferecia o robusto 2.0 do Monza, com 110 cv.

No Chevrolet o combustível era álcool, enquanto o Volkswagen era produzido apenas com motor a gasolina. O Gol, 90 kg mais leve, acelerou de 0 a 100 km/h em 9,7 segundos – tempo mais baixo que o do primeiro teste -, enquanto o Kadett cumpriu a prova em 10,4 segundos.

© Fornecido por Abril Comunicações S.A. Esportivo tinha a parte inferior prateada

Mas nas retomadas o Chevrolet deu o troco. O Kadett também levou a melhor em conforto.

Além disso, em termos de aerodinâmica havia um túnel enorme entre eles. O Chevrolet, projeto da Opel desenvolvido em túnel de vento, tinha dianteira afilada e um Cx de 0,30. Já o Gol, com sua frente em pé, era uma barreira contra o vento – tinha Cx estimado em 0,41.

© Fornecido por Abril Comunicações S.A. Kadett GS: o maior rival do Gol GTi

Mesmo assim, na prova de velocidade máxima, puxado pelo motor mais potente e graças ao menor peso, o GTi conseguiu andar no mesmo ritmo do alemão recém-chegado aos trópicos: o Kadett fez 174,4 km/h, apenas um décimo de segundo a mais que o Gol. Empate técnico.

 

O GTi continuou com seu carisma na década de 90. Em 1995, já com a carroceria “Bolinha” e o “i” maiúsculo, o esportivo recebeu um motor 2.0 alemão, com 16 válvulas e 141 cv. Voou na pista e passou dos  200 km/h.

© Fornecido por Abril Comunicações S.A. A bolha sobre o capô era exclusiva do Gol GTI 16V

Assim ele avançou até o fim dos anos 90. Foi reestilizado em 1999, mas durou pouco. Anunciamos seu fim na edição de janeiro de 2001:

“O primeiro carro brasileiro de série a ter injeção eletrônica despediu-se da linha de montagem. O Gol GTI não estava mostrando nas vendas o mesmo desempenho que seu motor 2.0 16V de 146 cavalos esbanjava nas pistas.

© Fornecido por Abril Comunicações S.A. O último Gol GTI durou de 1999 a 2001

Em novembro passado foram vendidas sessenta unidades, menos de um terço da produção do Santana a álcool.

O preço de R$ 36.240 andava espantando a clientela. Apresentado em 1988, o GTI já foi o carro mais rápido do país. No último teste da QUATRO RODAS, alcançou 203,2 km/h. O 1.0 16V Turbo, de 112 cavalos, toma seu lugar como o Gol mais veloz: 190,3 km/h.”

Janeiro de 1989

© Fornecido por Abril Comunicações S.A. Luzes, ação: o esportivo veio com três pares de faróis

“Leitor, eu dirigi um carro de sonho. Não tanto pelo design ou pela estética, já que afinal não deixa de ser um Gol. Mas nesse caso trata-se de um golaço, ou um gol de placa, a de São Bernardo. Para quem gosta de dirigir, a sensação de estar sentado atrás do volante de couro desse cavalinho é praticamente indescritível. Acostumado com as engasgadas e entupidas sazonais do motor a álcool, me surpreendi sorrindo ao constatar a reação imediata desse motor ao mais leve toque no acelerador. Acredite! Tudo que você ouvir sobre o desempenho desse carro é verdade. É o bicho. Às vezes o ruído do motor me lembrava um carrão tipo Opala, ou coisa parecida.”

Teste: Volkswagen Gol GTi em janeiro de 1989

Aceleração de 0 a 100 km/h – 10,4 s Velocidade máxima – 174,3 km/h Frenagem 80 km/h a 0 – 28,9 m Consumo – 8,5 km/l (urbano) – a 13,3 km/l (rodoviário) Preço: Janeiro de 1989 – Cz$ 19.300.000 | Atualizado – R$ 176.300 (INPC/IBGE)

Ficha técnica

Motor: dianteiro, 4 cilindros, longitudinal, 1 984 cm3 Diâmetro x curso: 82,5 x 92,8 mm Taxa de compressão: 10:1 Potência: 120 cv a 5.600 rpm Torque: 18,3 mkgf a 3.200 rpm Câmbio: manual de 5 marchas, tração dianteira Dimensões: comprimento, 385 cm; largura, 160 cm; altura, 135 cm; entre-eixos, 236 cm; peso, 997 kg Suspensão: dianteira, independente, McPherson; traseira, eixo de torção