DA REDAÇÃO | 14 de junho de 2018 - 13:29 CENAS

Leia a crônica de Oswaldo Barbosa de Almeida: "1966"

O ano de 1966 foi de importantes mudanças na minha vida profissional, eis que tive nada menos que três empregos durante esses doze meses. Trabalhava no Banco Agro Pecuário de Campo Grande, o Banagro, quando me foi oferecido o emprego de vendedor-viajante de laboratório farmacêutico para o então Estado de Mato Grosso. A proposta era tentadora, com possibilidades de ganhos muito acima do meu salário no banco. Depois de muito pensar, resolvi arriscar e pedi demissão do Banagro.

Meu desligamento dessa instituição financeira deu-se mediante muita resistência do meu superior, um dos diretores do estabelecimento, que reconhecia minha capacidade e me havia valorizado no emprego; tentou ele fazer-me desistir do intento, acenando-me inclusive com a possibilidade de eu assumir a gerência de uma das agências do interior. Resisti e saí do banco em agosto daquele ano, aceitando a oferta do laboratório.

Para avaliar-me, veio a Campo Grande o gerente do Território Bandeirante, uma das áreas em que se subdividia o território de atuação do laboratório, incluindo parte do estado de São Paulo e todo o Mato Grosso. Entrevistou-me e concluiu que eu estava apto a, após treinamento, exercer as funções correspondentes. Autorizou-me ele a tomar um avião por conta da empresa e dirigir-me à sede do laboratório, na capital de São Paulo, para a formalização da admissão, o que fiz imediatamente. 

Contratado, determinou-me o citado gerente que eu tomasse um trem da Cia. Paulista e me dirigisse a Bauru, onde se daria o treinamento para o mês de setembro. Ali fui apresentado ao subgerente que me acompanharia na primeira incursão de trabalho pelas oito cidades de Mato Grosso onde iria trabalhar: Cuiabá, Cáceres e Rondonópolis, no norte, e Campo Grande, Aquidauana, Corumbá, Dourados e Ponta Porã, no sul. Pela manhã deixei o hotel no centro de São Paulo e dirigi-me à então famosa Estação da Luz, onde almocei, experimentando uma pizza pela primeira vez: deliciei-me com uma “brotinho” no balcão de um restaurante da estação ferroviária.

Passando pelo treinamento em Bauru, no dia seguinte o meu treinador e eu tomamos um velho avião do Lóide Brasileiro e chegamos a Campo Grande, onde começamos os trabalhos no dia seguinte, rumando depois para o norte do Estado, passando por Aquidauana e Corumbá, onde também trabalhamos. Cobertas as praças de Cuiabá, Cáceres e Rondonópolis, voltamos a Campo Grande, regressando o meu acompanhante para São Paulo e eu seguindo depois, sozinho, para Dourados e Ponta Porã, fechando o roteiro do mês de setembro.

Mas, a experiência foi frustrante: depois de árduos três meses de dura labuta, descobri não ter vocação para vendedor. Não consegui cobrir a quota mínima para fazer jus à bonificação que dobrava o salário e resolvi demitir-me. Em meados de dezembro fui a São Paulo e desliguei-me do laboratório, apresentando-me incontinenti na sede do Banco do Estado de São Paulo, o Banespa, para assumir o cargo de escriturário que havia conquistado havia um ano e meio por concurso público.

*Membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras e da UBE-MS