ANDERSON BENITES PARA O BONITO INFORMA | 16 de setembro de 2017 - 13:06 EMPREENDEDOR SOCIAL

Projeto de alfabetização de pescadores ribeirinhos do Pantanal participa de campanha internacional

Projeto de alfabetização de pescadores ribeirinhos do Pantanal participa de campanha internacional

A alfabetizadora Janete Correa e a presidente do Ipedi, Denise Silva: projeto respeita as peculiaridades dos pescadores, para otimizar o aprendizado.

O Instituto de Pesquisa da Diversidade Intercultural (Ipedi) foi uma das organizações contempladas para participar da campanha internacional “Abrace o Brasil”, realizada pela associação Brazil Foundation.

A iniciativa busca fazer arrecadação de recursos para auxiliar no financiamento de projetos e ações comunitárias de instituições em todo o Brasil, nas mais variadas frentes de atuação.

São projetos de acompanhamento de crianças com microcefalia, apoio a comunidades ribeirinhas da Amazônia, coletivos populares de comunidades carentes do Rio de Janeiro, entre outros.

No caso do Ipedi, a campanha Abrace o Brasil pretende arrecadar fundos para dar continuidade, ampliar e melhorar o projeto Barco de Letras que promove a alfabetização de pescadores ribeirinhos no Pantanal de Mato Grosso do Sul.

O mote da campanha específica do Ipedi é “Abrace o Barco de Letras do Pantanal e colabore com projetos educacionais”.

“É a primeira vez que participamos de uma campanha deste nível. E só decidimos aderir porque conhecemos toda a seriedade da Brazil Foundation, nossa parceira de todas as horas e reconhecida pela revista Exame como uma das mais confiáveis e importantes organizações não governamentais do Brasil”, diz a presidente do Ipedi, doutora Denise Silva, uma das idealizadoras do projeto Barco de Letras.

“A iniciativa do Barco de Letras só é possível graças ao empenho da coordenadora do projeto e quem ajudou a criar a concepção que hoje é utilizada, a Janete Correa.

Por conta de toda essa credibilidade construída, pelos resultados obtidos e pela satisfação dos pescadores que participam das aulas é que optamos por participar da campanha Abrace o Brasil com o Barco de Letras”, completa Denise.

Segundo a presidente os recursos arrecadados pela campanha coordenada pela Brazil Foundation farão com que seja possível que o Barco de Letras atenda um número maior de alunos e que a iniciativa não seja encerrada, garantindo a continuidade do aprendizado dos alunos.

Transformação
A dona Nilza Bandeira é pescadora de família conhecida em toda região de Miranda, município do Pantanal de Mato Grosso do Sul. Tradicionais pescadores do Rio Miranda, a família da dona Nilza conhece as manhas dos rios do Pantanal. E vai tocando a vida ali conforme as cheias e as “baixas” das águas dos rios da bacia do Paraguai. E nessas idas e vindas do rio e da vida, a dona Nilza teve que deixar muita coisa para depois. Ir à escola foi uma delas. A dona Nilza não sabe ler. E não saber ler é muito difícil nos dias de hoje.

Você consegue imaginar como é? A dona Nilza tenta explicar: “É como se a gente estivesse cego no mundo”, descreve.

Conversamos com a dona Nilza numa sala da sede da Colônia de Pescadores Z-5. Enquanto a ouvimos contar sua história, no espaço ao lado estão seus amigos, familiares, conhecidos. Todos pescadores artesanais que tiram dos rios do Pantanal o sustento de suas famílias ribeirinhas. Em comum, eles têm a mesma “cegueira” da dona Nilza. São analfabetos. Uns escrevem, conhecem o “a, e, i, o u”. Outros, nem isso.

A dona Nilza está feliz porque esta história de “cegueira” está mudando. Dona Nilza e seus colegas
pescadores estão entrando num barco novo, diferente dos que em que estão acostumados: é o Barco de Letras. “Esse projeto vai ser muito importante na minha vida do meu esposo também ele nem assina o nome dele direito. Então na minha família isso vai ser muito importante, vai ajudar muito a gente. Eu fiquei muito feliz quando eu soube que a gente ia ter aulas, pra poder aprender mais um pouco e poder se instruir melhor né, eu achei muito bom”.

O projeto está oferecendo alfabetização para pescadores ribeirinhos do Pantanal, respeitando a realidade local e começou com 25 pescadores que frequentam as aulas no espaço da Colônia de Pescadores, todos os dias, no fim da tarde. O exercício da profissão deles obriga o projeto a se adaptar. Muitos dos alunos saem para o rio e ficam Pantanal adentro por semanas, morando nas chalanas. Levam, consigo, tarefas preparadas pela professora Janete. “Eles levaram as atividades e fizeram o compromisso de fazer”, relata.

Janete, com a confiança de que só dispõe quem realmente conhece a realidade peculiar destes alunos. Este é apenas um dos desafios do projeto. Outro desafio se refere à demanda que, com o desenrolar das atividades, está crescendo. Mais pescadores, confiantes no projeto, têm demonstrado o desejo de aprender a ler e a escrever. É o caso, por exemplo, de um grupo de pescadores residentes em Salobra, distrito que fica a cerca de 20 quilômetros da área urbana de Miranda. Lá, já são 18 pescadores, divididos em duas turmas. As aulas deles acontecem aos sábados, nas casas dos alunos, e contam com o apoio da Colônia de Pescadores local.

“Aprender a ler e a escrever é o que eu mais quero neste mundo”, diz o seu Nilson Samuel, mais conhecido como seu Enio, aluno do projeto e dono da casa onde ocorreu a aula inaugural em Salobra. Ele conta que até tem Whatsapp no celular mas que para se comunicar é obrigado a pedir que seus contatos mandem áudios, porque ele não sabe ler.

Doação

A sua doação para o Barco de Letras do Pantanal pode ser feita acessando o endereço www.abraceobrasil.org/ipedi. Os valores que podem ser doados on-line são R$ 15, R$30, R$100, R$ 250, R$ 500 e R$ 1000.

Os recursos serão destinados pela Brazil Foundation e pelo Ipedi para manter e ampliar o Barco de Letras.