BONITO INFORMA COM IVAN BERGIER | 18 de abril de 2017 - 08:30 ARTIGO - POR Ivan Bergier

ARTIGO: Por que a Cachoeira Boca da Onça na Serra da Bodoquena secou no verão de 2017?

Por que a Cachoeira Boca da Onça na Serra da Bodoquena secou no verão de 2017?

Fonte: Fazenda Boca da Onça
(http://www.bocadaonca.com.br/imagens/galeria_1/g1_219.jpg)

A Cachoeira da Onça, com seus 156 metros de altura, é a maior queda de cursos d’água no Estado de Mato Grosso do Sul. Por sua beleza cênica é também uma das paisagens mais visitadas por banhistas e pelo turismo de aventura. Localizada na Serra da Bodoquena, tem suas águas drenadas pela Bacia do Rio Miranda.

Desde o início do verão, os frequentadores têm verificado uma redução da vazão de água da cachoeira. A foto (acima) foi tirada pelo colaborador do Google, Diego Gatti, em janeiro de 2017. Desde então, e até o início de abril, a água na cachoeira não retornou. Quais os prováveis motivos que explicam esse fenômeno?.

A Embrapa Pantanal tem conduzido pesquisas mostrando que a vegetação natural tem o importante papel de reter a água da chuva, armazenando-a nos solos e aquíferos adjacentes, e liberando-a lentamente nos rios superficiais. Por outro lado, uma diminuição das chuvas de verão, que normalmente variam de um ano para outro, reflete na redução da vazão de água dos rios.

Entretanto, na maioria das regiões antrópicas (modificadas pelas pessoas), como as fazendas em áreas rurais, os efeitos podem ser combinados. Portanto, três hipóteses podem ser avaliadas: 1) aumento da supressão da vegetação nativa na bacia de drenagem da cachoeira; 2) diminuição das chuvas no verão 2016/17, ou 3) as duas hipóteses anteriores combinadas.

A cachoeira possui uma área de drenagem de aproximadamente 1.000 ha e as áreas desmatadas entre 2000 e 2013, obtidas do Projeto Global Forest Change da Universidade de Maryland, somam cerca de 70 hectares.

Portanto, em 13 anos foram suprimidos aproximadamente 7% da cobertura de vegetação nativa remanescente naquela bacia de drenagem que concentra água para a cachoeira. Isso representa uma taxa de desmatamento anual de aproximadamente 0,5% ao ano.

De outro lado, quando se comparam as chuvas mensais acumuladas em estações meteorológicas na região e entorno (dados disponíveis no INMET, Instituto Nacional de Meteorologia), nota-se que choveu abaixo da média para o verão. Consequentemente, é também possível que a redução das chuvas no verão 20116/17 tenha tido um papel relevante no fenômeno observado pelas pessoas desde janeiro de 2017.

Contudo, a redução da cobertura florestal nativa agrava o problema e a adoção de sistemas agroflorestais (combinação de florestas com pastagem e/ou agricultura) na bacia de drenagem pode auxiliar a reduzir e mitigar esses eventos extremos de seca na cachoeira Boca do Onça, especialmente levando-se em conta cenários atuais de mudança do clima para a região publicados na literatura científica. ____________________________________________________________________ Ivan Bergier (ivan.bergier@embrapa.br), biólogo, pesquisador da Embrapa Pantanal. COMO CITAR ESTE ARTIGO BERGIER, I. Por que a Cachoeira da Onça na Serra da Bodoquena secou no verão de 2017?. Corumbá, MS: Embrapa Pantanal, 2017. 2p .ADM – Artigo de Divulgação na Mídia, n. 162. Disponível em: