Correio do Estado | 13 de dezembro de 2016 - 07:02 NOVAS REGRAS

Decreto ameaça demarcação de terras indígenas em Mato Grosso do Sul

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A minuta do decreto do Ministério da Justiça, divulgada ontem, que propõe a regulamentação da demarcação de terra indígenas, pretende alterar o processo de reconhecimento das áreas dos povos tradicionais. A medida pode paralisar aproximadamente 280 ações de demarcação em andamento no País, pelo menos 96 delas em Mato Grosso do Sul. A proposta fragiliza terras que já foram demarcadas e reconhecidas por governos anteriores, abrindo espaço para essas áreas sejam contestadas por pessoas que pleiteiem o mesmo espaço. 

Pelo novo texto, passa a valer o critério de “marco temporal”, que estabelece que apenas os povos indígenas que ocupavam ou disputavam áreas desde 1988 - ano de promulgação da Constituição - podem ter direito a ela. Com isso, os índios que deixaram ou foram expulsos de suas terras e não as retomaram depois de 1988, mesmo que por meios violentos, perdem o direito de reivindicá-la.

Outro ponto polêmico do decreto é a mudança no processo de desocupação de áreas onde há presença de não-índios. Pelas regras atuais, o governo propõe indenizações financeiras a donos de propriedades rurais, quando estes estão dentro de áreas que são reconhecidamente terras indígenas. O que o novo decreto prevê é que, agora, os índios sejam indenizados e não voltem mais para as terras. Na legislação do tema não há previsão de pagamento a indígenas para que deixem de reivindicar terras – o que o governo faz, como previsto na Constituição, é indenizar os fazendeiros e retirá-los de terras indígenas.