Estadão | 20 de novembro de 2014 - 07:38 Dia da Consciência Negra

Consciência negra é tema de mostra e debates

Nada melhor que uma mostra com o sugestivo título de África Hoje para se abrir nesta quinta-feira, 20, em que se comemora o Dia da Consciência Negra. Instituída por uma lei de 2011, a data faz referência a Zumbi, então líder do Quilombo de Palmares e que foi morto por bandeirantes em 20 de novembro de 1695. Zumbi virou símbolo de resistência ao poder colonial, e o que se comemora, como consciência negra, é justamente a luta contra a escravidão e a dominação econômica e ideológica.

Cacá Diegues, o cineasta brasileiro que mais tem abordado a questão da negritude, já fez dois filmes sobre ele - Zumbi dos Palmares e Quilombo. No segundo, a trilha de Gilberto Gil tem uma canção que embala a luta do herói. ‘A felicidade do negro é uma felicidade guerreira.’ Como meta, o Dia da Consciência Negra visa a evitar a autodepreciação ou preconceito, que inferiorizam o negro na sociedade. Associadas ao tema estão outras questões, como cotas, inserção no mercado de trabalho e a própria ideia de beleza.

Com curadoria da cineasta Luciana Hees, a mostra África Hoje é uma realização de Mariana Marinho. Até dia 3 (de dezembro), vai exibir 17 filmes, entre médias e longas, a maioria inéditos no circuito brasileiro. São obras da África do Sul, França, Madagascar, Moçambique, Angola, Congo, Suíça, Burkina Faso e Tunísia. O evento abre-se com Mandela - Filho da África, Pai de Uma Nação, de Jo Menell e Angus Gibson. O filme será seguido de debate da curadora com o diretor e roteirista Marco Abujamra e o professor em Jornalismo, Informação e Sociedade pela ECA/USP, Dennis de Oliveira.

Mariana Marinho destaca o conceito - “Queremos proporcionar horizontes diferentes daqueles a que estamos acostumados, tanto nos temas abordados quanto na linguagem, pois os filmes apresentam uma naturalidade espantosa, uma falta de pudor, no melhor sentido que a expressão pode significar.” Uma das atrações já conhecidas do público é Lumumba - A Morte do Profeta, que já integrou uma recente programação dedicada ao cineasta haitiano Raoul Peck. Como Nelson Mandela, que liderou a luta contra o apartheid na África do Sul, Patrice Lumumba foi o símbolo da resistência ao colonialismo belga no então Congo. Só que, ao contrário de Mandela, que viveu para governar e unir o país, Lumumba, no quadro das disputas geopolíticas dos anos 1960, foi brutalmente assassinado com a cumplicidade da CIA, para evitar que o Congo Belga virasse uma Cuba africana, exportando sua revolução - seu pan-africanismo - para os países vizinhos.