Notícias MS | 16 de julho de 2013 - 13:22 FESTIVAL DE BONITO

Festin Bonito: Túnel Lúdico terá 700 luas para contar lendas e história de amor

A ambientação que receberá os visitantes no 14º Festival de Inverno de Bonito promete surpreender.

A ambientação que receberá os visitantes no 14º Festival de Inverno de Bonito promete surpreender. Um túnel de 110 metros no percurso entre a Praça da Liberdade e a Grande Tenda, na cor azul, terá como tema a Lenda regional das 700 Luas, entre outras da região.

Durante o trajeto será possível ler a cada pórtico frases que compõem uma linda história de amor, mas o mais surpreendente serão as 700 bolas brancas de dimensões diferentes, que representarão as luas e comporão um céu mágico e surreal. Também haverá uma iluminação especial, reforçada por luz negra que acenderá as bolas à noite e vasos com arbustos, que vão emoldurar os painéis com paisagens da região, onde se verá impressa toda a sequencia da lenda.

Em versões anteriores o Festival já tratou de temas como as águas de Bonito, sua flora e fauna, homenagens a Ney Matogrosso e Manoel de Barros. Mas este ano a ideia da curadoria do evento foi retratar a lenda local.

Segundo o cenógrafo do túnel, José Carlos Serroni, a intenção é que no final, durante a desmontagem do túnel, as crianças possam confraternizar no local. “E por que não levar uma lua de lembrança?”, propõe.

 

          

             A lenda das 700 Luas

Houve uma época em que toda a região da Serra da Bodoquena era habitada por um povo admirável e especial que acreditava que o Homem era um ser singular, criado por um Deus sábio, que colocara em cada um de nós entranhas com muita energia, livre arbítrio e sentimentos constantes. Esse povo formava a brava e poderosa nação Terena, livre, soberana e crente em suas tradições.

Entre os valores que cultuavam, um se sobressaia: o amor. E nada era mais importante, nada era mais verdadeiro, nem mais divino. Era parte da cultura, acreditar que pelo amor valia a pena viver ou, se necessário, morrer. Foi devido a essa crença, que toda a história acontece.

Cacai era a mais linda jovem de todas as terenas e pertencia a uma tribo localizada próxima a Gruta do Lago Azul, mas guerreiros de todas as tribos já tinham ouvido falar dela e de seus encantos. Havia muitos pretendentes e admiradores.

Um dia, um jovem cacique daquela tribo resolveu que chegara o momento de arrumar uma companheira e escolheu Cacai. Seguindo a tradição, convidou-a para o pacto das 700 luas, onde o noivo e a noiva faziam um trato de que durante 700 luas iriam se conhecer e em seguida decidiriam quanto às núpcias. A decisão era soberana e livre como cabia a todos os terenas - homem ou mulher.

A negativa era aceita com naturalidade e com respeito por toda a tribo e se a decisão fosse pelo casamento, o pacto era consumado num ritual de amor e fidelidade eterna. O ritual era realizado no interior da Gruta do Lago Azul, onde eram pronunciadas as palavras mágicas que só os velhos terenas conheciam. A decisão era a mais importante na vida de um terena. Não podia haver erro. A união era indissolúvel, nem a morte os separavam. Acreditava-se na existência de uma alma imortal.

Transcorria o namoro de Cacai com o jovem chefe da tribo, como era do costume daquela gente, mas o "Deus do destino", que coloca os sentimentos no coração das pessoas, tinha outros planos para Cacai.

Um certo dia, um estrangeiro virou prisioneiro da tribo. Ele tinha a pele clara e carregava nos olhos um brilho que Cacai jamais vira. Os seus cabelos castanhos apresentavam mechas brancas revelando que aquele guerreiro forte e ágil era quase um ancião. Cacai cuidou de seus ferimentos, ensinou-lhe a sua língua, conquistou a sua alma e descobriu o verdadeiro amor de sua vida.

Quando se passaram as 700 luas, a resposta de Cacai foi de que não se casaria com o chefe da tribo. E ele, inconformado e enfurecido, obrigou a realização do ritual, contrariando a sagrada tradição terena.

O pacto foi realizado e para desespero de Cacai, as palavras mágicas foram pronunciadas. Não havia mais esperanças para Cacai e seu amado. Qualquer mulher que quebrasse o sagrado juramento teria o seu coração transpassado por uma flecha terena. Cacai sabia disso, mas sabia também que devia obediência ao valor supremo do amor. Curvou-se a ele.

Naquele mesmo dia fugiram numa canoa, descendo o Rio Formoso.

O cacique reuniu seus guerreiros e cumpriu-se a maldição. O sangue de Cacai e seu amado foram tornando a água do Formoso cada vez mais limpa e a última gota foi derramada. Todo o rio e até seus afluentes estavam com a água cristalina e transparente como fora o coração de Cacai.

Naqueles dias em que parece que o vento parou e apenas uma leve brisa penetra a solidão e a flor do ipê fica mais colorida; quando a água sombria do Lago fica mais azul e se torna alegre com um pássaro solitário que vem refrescar suas penas e cortejar o perfume duma Cacai que nossos olhos não vêem, mas que lá está; num dia assim tão especial, quando o Poeta vem colher, numa canção, aquela outra messe que os campos produzem; nesses dias é possível ouvir os sussurros de amor de Cacai e seu amado imortal.

Está lá no fundo da gruta, está nas cachoeiras, no fundo das águas do rio, está em todo o lugar, é só prestar atenção.

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