BBC Brasil | 30 de maio de 2013 - 10:30

Trailers gastronômicos viram moda nos EUA

O velho cachorro quente é coisa do passado: trailers que oferecem um gastronomia mundial sobre rodas, com ingredientes como trufas e presunto serrano espanhol, ganharam as ruas das principais cidades dos Estados Unidos.

Na capital americana, Washington, homens engravatados e mulheres de terninhos fazem fila na hora do almoço para saborear as criações de chefs como Jerry Trice, proprietário do caminhão Chef Driven DC.

Trice, que tem treinamento clássico, já comandou cozinhas de restaurantes badalados. Há um ano, resolveu abrir seu próprio trailer.

Como outros de sua geração, ele quer oferecer à sua clientela uma experiência de cozinha de alto nível literalmente no batente da porta do escritório.

"Nossa comida é feita com ingredientes da estação e produzidos localmente", diz o chef, cujos pratos incluem filé com batata frita ao molho de trufas e risoto preparado na hora.

"Não fazemos só um tipo de cozinha. É uma mistura de gastronomia internacional: junto palavras do mundo inteiro para fazer minha frase."

Empreendedorismo

Trice não está só - pelo contrário, está operando em um mercado cada vez mais competitivo nos EUA.

Os primeiros trailers começaram a surgir depois da crise econômica, que enxugou o crédito e dificultou a vida de chefs talentosos que planejavam abrir seus próprios negócios.

Roy Choi, hoje considerado o pioneiro da ideia, abriu seu trailer Kogi em Koreatown, Los Angeles, em 2007.

A ideia se espalhou para outras capitais americanas, do Oregon ao Texas, de uma costa a outra. O primeiro a estacionar em Washington foi o Fojol Bros, que serve comida indiana à população washingtoniana desde o início do governo Obama - em janeiro de 2009.

Hoje, a capital tem pelo menos 150 deles, estima a associação do setor da capital.

"Washington é uma das cidades americanas com um ambiente de trailers gastronômicos mais vibrantes", disse à BBC Brasil o porta-voz da associação, Che Ruddell-Tabisola, coproprietário do BBQ Bus.

Segundo ele, outros fatores, além da crise, explicam a proliferação dessa modalidade de comida de rua na capital.

"Em muitos locais onde há parques e monumentos, o espaço é tombado e não pode haver restaurantes. Frequentar os trailers é uma forma de evitar pegar o carro para almoçar", explica.

A explosão das mídias sociais terminou de cimentar o sucesso dos negócios sobre rodas.

Através de suas contas de Twitter e de sites como FoodTruckFiesta.com, os comensais podem monitorar onde estão seus chefs favoritos e até fazer pedidos online para evitar a fila.

Para os proprietários, afirma Ruddell-Tabisola, as mídias sociais são uma janela para avaliar o sucesso de cada receita, receber sugestões e planejar o itinerário da semana, com base em onde sua presença será mais necessária.

"É difícil encontrar negócio que transfira mais o controle de suas operações para o cliente que os nossos."

'Embaixador'

Tão forte é a onda dos trailers gastronômicos que alguns chefs de renome já abraçaram a ideia.

O catalão José Andrés lançou há pouco mais de um ano o seu Pepe, que serve bocadillos - os sanduíches espanhois - com ingredientes como presunto serrano espanhol, quejo da região de La Mancha, gazpacho, saladas e "patatas bravas", ou batata frita com molho apimentado.

Dono de um conglomerado de restaurantes que inclui o exclusivo - e caro - Minibar, com 35 anos de carreira, José Andrés disse à BBC Brasil que queria "fazer parte desse universo (de trailers gastronômicos) como mais um".

"É uma forma maravilhosa de se aproximar de um público que talvez não frequentasse o seu restaurante. É uma espécie de embaixador que vai procurando mercado", disse.

"Eu vejo os trailers como as start-ups do futuro, os futuros negócios que vão competir com as grandes redes de fast food. Tenho certeza disso, a questão é só quem vai ser."