Formada há mais de 4,5 bilhão de anos, a Terra ainda pode passar um bom tempo resfriando. De acordo com um estudo japonês publicado na Nature Geoscience, apenas metade do calor interno de nosso planeta deriva da radioatividade natural. O resto é resultado do calor primordial emitido durante a formação do planeta, em que uma grande ‘bola’ de gás quente, poeira e outros materiais foram condensados.
A radioatividade natural é a energia que pode ser detectada na superfície terrestre e proveniente de raios cósmicos e de radiação solar ultravioleta. Em montanhas e rochas, elementos radioativos como o urânio-238, urânio-235, tório-232, rádio-226 e rádio-228 contribuem para a emissão de radiação. Isso ocorre quando um átomo tem um núcleo muito energético e tende a se estabilizar, emitindo o excesso de energia em forma de partículas ou ondas (radiação).
A energia primordial refere-se ao que sobrou do processo pelo qual a Terra foi formada. Acredita-se que o planeta foi originado pela acreção (união) de partículas de nuvens de gases que se colidiram por efeito da gravidade. Neste processo, a temperatura foi elevada progressivamente. Materiais foram então diferenciados (ferro e níquel foram condensados no núcleo, materiais de média densidade passaram a ocupar o manto e silicatos pouco densos formaram a crosta) e o calor foi acumulado no interior do planeta.
Embora se saiba que parte da energia primordial tenha sido conservada no núcleo, o trabalho é um dos poucos a estimar diretamente a quantidade de energia radioativa produzida no interior da Terra. A descoberta é o resultado de experiências realizadas dentro de uma montanha no Japão, onde pesquisadores usaram geoneutrinos – partículas produzidas de diferentes formas, particularmente durante certos tipos de decadência de radioatividade.
Ao identificar o ritmo da radioatividade ‘natural’, pesquisadores agora podem prever o resfriamento da Terra – bem como determinar quanta energia foi perdida no passado. Os dados também podem dar pistas sobre como, e em que velocidade placas tectônicas se movimentaram ao longo dos anos. Placas tectônicas são um meio pelo qual o calor é emanado de dentro para fora da Terra e podem indicar inclusive a taxa de atividade vulcânica.
Tanto a radioatividade interna quanto o calor primordial irão diminuir nos próximos anos. Até agora, a Terra está resfriando em 100 graus Celsius por bilhão de anos. Isso significa que em alguns bilhões de anos o Sol, já moribundo, irá emitir raios derradeiros sobre uma superfície terrestre praticamente congelada.