A brasileira Eunice Lemos Tavares, 56, residente em Vilhena (RO), morreu na pista do aeroporto internacional de Corumbá, às 14h30min do dia 5 de julho, depois de submeter-se a três cirurgias plásticas na cidade boliviana de Santa Cruz de La Sierra, distante 650 quilômetros da fronteira, por rodovia. A informação foi divulgada somente ontem (13) pela Polícia Civil, que abriu inquérito para apurar o caso.
Eunice era hipertensa, não fez exames preliminares, e segundo uma irmã, sofreu três paradas cardíacas enquanto a aeronave em que viajava – uma UTI da empresa boliviana Aeroeste Táxi Aéreo – aguardava, em Corumbá, autorização para entrar no espaço aéreo brasileiro e seguir viagem. O médico que a acompanhava, Roberto Antônio Navarro Ballivian, 37, boliviano, tentou reanimá-la sem sucesso.
Os preços convidativos de cirurgias plásticas em Santa Cruz de La Sierra tem atraído centenas de brasileiros – homens e mulheres -, principalmente de Mato Grosso do Sul. Alguns cirurgiões teriam fama internacional, inclusive com estágios no Brasil, mas também existiriam muitos "charlatões". Um médico boliviano preso em Cuiabá (MT), em 2010, por exercício ilegal da profissão tem clínica em Santa Cruz.
A morte de Eunice Tavares "é um alerta", afirmou o delegado Jeferson Rosa, que apura o caso. "É preciso conhecer melhor a clínica e seus procedimentos médicos, obter informações com pessoas que fizeram cirurgias e exigir exames pré-operatórios completos", afirma o delegado. "Ninguém deve entregar seu corpo para um médico desconhecido, ainda mais em um outro país."
Em coma
Segundo as investigações policiais, Eunice Tavares omitiu do médico boliviano, ainda não identificado, que tinha hipertensão, e após as cirurgias nos seios, abdômen e face teve as primeiras complicações. Ela teve uma embolia pulmonar e hipóxia cerebral, entrando em estado de coma, ficando uma semana na UTI (Unidade de Tratamento Intenso) da Clínica Kamiya, onde operou.
O delegado Jeferson Rosa ouviu o médico Roberto Ballivian e aguarda o resultado do exame necroscópico do corpo para dar sequencia às investigações. Também requisitará os depoimentos das duas mulheres que acompanhavam Eunice – sua irmã, Raquel, que residiria em Campo Grande, e Rosineide Matos Silva, amiga. O delegado tentará ouvir o cirurgião e a clínica, por meio de carta rogatória.
Paraíso das cirurgias
A cidade boliviana de Santa Cruz de La Sierra tornou-se, nos últimos meses, o paraíso das cirurgias plásticas, cujos preços equivalem a até 70% menos aos valores cobrados no Brasil. Os preços são negociáveis e cirurgias de seios (redução de mama ou prótese de silicone) e abdômen (abdominoplastia) podem custar, juntas de US$ 2,5 mil a US$ 4,0 mil - entre R$ 4 mil e R$ 6,4 mil. No Brasil, esses procedimentos custam, em média, R$ 12 mil. Um "lifting" facial, sai entre US$ 600 e US$ 1,0 mil na Bolívia.
O baixo valor da moeda boliviana (R$ 1 vale quatro bolivianos, em média) também é um fator de atração aos brasileiros pelas clínicas especializadas de Santa Cruz. A passagem de avião entre Puerto Suares (18 quilômetros de Corumbá) e Santa Cruz custa R$ 170. De ônibus executivo, R$ 35, e de trem (com cama e serviço de bordo), R$ 60. A diária de um hotel três estrelas, sai em torno de R$ 45.
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