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Trem do Pantanal deixa Campo Grande e reinaugura linha entre Aquidauana e Miranda

25 Ago 2014 - 08h14Por Diário Digital

O som do apito do trem foi ouvido pela última vez em Campo Grande. O Trem do Pantanal não vai mais operar a linha Capital-Aquidauana. A última viagem ocorreu no sábado passado, dia 23 de agosto, da qual o Diário Diário participou com exclusividade. A empresa Serra Verde Express manterá apenas o trajeto Aquidauana -Miranda e vice-versa. No dia 6 de setembro, haverá uma reinauguração deste percurso. A derradeira vez no trecho inicial não foi marcada apenas pela tristeza do adeus. Houve música, intervenções artísticas e até filme sendo gravado a bordo dos vagões. Os passageiros, testemunhas oculares da última partida do veículo considerado lendário em terras pantaneiras, partilharam momentos de alegria e saudades.

O Trem do Pantanal deixou a estação no Indubrasil, em Campo Grande, às 8 horas de sábado,  para não retornar mais. Foram cinco anos de insistência desde a reativação, mas, segundo a empresa, o público não aderiu ao trem e a logística cada vez mais complicada do transporte ferroviário tornou a manutenção do trajeto inviável. O Trem do Pantanal voltou aos trilhos no dia 8 de maio de 2009, após 14 anos parado. A viagem inaugural teve a presença do então presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e de dezenas de autoridades locais. Até o presidente do Paraguai à época, Fernando Lugo, compareceu.

Após a fase pomposa do retorno, a realidade se mostrou difícil para a linha Campo Grande-Aquidauana que tem 140 quilômetros de extensão. No Brasil, a falta de manutenção adequada e modernização das ferrovias é considerada um impasse para o transporte sobre trilhos. O Trem do Pantanal começou a operar com velocidade máxima de 33km/h. Agora, só pode atingir 25km/h.

Maquinista da ALL (empresa responsável pelas ferrovias de MS) há 25 anos e condutor do Trem do Pantanal, Orlando Francisco de Oliveira, 49 anos, explica que em alguns trechos a velocidade possível é de 13km/h. “Esta linha é cheia de restrições devido à falta de manutenção. Em vários trechos, há trilhos fraturados”, detalha o maquinista exibindo o boletim de restrições que define a velocidade permitida para cada quilômetro da ferrovia. “Jamais podemos ultrapassar estas velocidades restritas, pois do contrário colocaríamos em risco a vida dos passageiros”, acrescenta.

A viagem vagarosa e cansativa é uma das explicações para a baixa procura. Desde a inauguração, a empresa lançou mão de alternativas para entreter os viajantes. O percurso entre Campo Grande e Aquidauana era preenchido com informações sobre a história e potencialidade turística da região, além de intervenções artísticas e música. Um dos responsáveis pela interação com o público é o chefe do trem e guia turístico Noredim Trindade. Ele, inclusive, exerce feliz várias funções dentro das locomotivas.

Mais do que descrever cada bela paisagem visível pelas janelas de vidro, Trindade percorre os vagões para se certificar de que os passageiros estão confortáveis e em segurança e ainda ajuda no embarque e desembarque. Coube a ele a dolorosa missão de anunciar aos viajantes que o Trem do Pantanal estava encerrando as operações entre Campo Grande e Aquidauana. “Estava difícil de manter. A demanda era pequena”, justificou à plateia desapontada.

Porém entre os quase 80 passageiros (a lotação máxima é de 280) que participaram da última viagem, havia pessoas que tomaram conhecimento antecipadamente sobre o fim das operações e organizaram até grupo para participar do momento histórico. O micro-empresário Ney de Souza Figueiredo embarcou na pequena estação de Terenos com um grupo de 22 pessoas. “Queríamos trazer mais gente para este despedida, mas a turma não se empolgou. Anunciamos na rádio e no Facebook”, diz Ney que é dono da cafeteria Coffe e Cia, em Terenos.

Entre os terenenses estava um jovem talento musical da terra. Igor Lopes tocou violão e cantou durante boa parte do trajeto. Quem ouvia sua voz firme no microfone nem imaginava que ele tem apenas 15 anos de idade. “Toco violão desde os 10, mas aos cinco eu já cantava”, relata. Nascido em uma fazenda em Terenos, o jovem revela ter preferência pelo sertanejo de raiz e se inspira em artistas como Tião Carreiro e Pardinho e Milionário e José Rico. “Mas eu gosto do sertanejo universitário também”, conta.

Quem também animou a viagem foi uma figura conhecida no Trem do Pantanal: o palhaço Zé Cateto. O personagem toca violão, canta, dança. Ele faz as pessoas se levantarem, se esticarem e se divertirem, seu objetivo principal. Por trás da maquiagem do Zé Cateto está o artista de múltiplas facetas Harley Castro, de 33 anos. Cantor, compositor, ator e artesão, ele trabalha no Trem do Pantanal desde 2009 e ficou triste com o enceramento da linha entre Campo Grande e Aquidauana.

“Campo Grande esperava tanto a volta deste trem. Cheguei a compor uma música sobre o retorno da lenda. É um triste fim, mas o público merece isso”, afirma, mencionando a pouca adesão ao passeio de trem. Harley continuará na linha Aquidauana-Miranda. O artista já gravou dois CD´s -- um com as paródias do palhaço Zé Cateto e outro com músicas próprias – que ele oferece aos turistas após as apresentações musicais.

Com a presença de Igor e Harley, o vagão de alimentação do trem parecia uma roda de cantoria. Um dos ouvintes mais empolgados era o aposentado Cecílio Nogueira Soares, 66 anos. “Eu sou acostumado a andar de trem, mas estava curioso para participar desta última viagem que reuni a família toda. Viemos juntos”, conta ele que é morador de Paraíso das Águas e viajou até Campo Grande só para embarcar no trem. Ao lado dele, a sobrinha Jennifer Vitorino de Carvalho, 14 anos, se dizia encantada com a experiência. “Adorei!”

Diferente dela, o professor de matemática alemão Wilefried Cahwalm, 46 anos, reclamava da viagem lenta. “Gostei de ver as montanhas e o rio, mas achei muito devagar”, disse relatando ter vindo de Colônia, na Alemanhã, para percorrer a região pela primeira vez. Porém, apesar do cansaço da viagem longa, ele não descarta voltar ao passeio de trem no futuro. “Por que não?”

A última viagem partindo de Campo Grande tinha mais do que música, teatro e turistas. Em um dos vagões, o elenco do filme Sobá, Trilhos e Silêncio gravava as últimas cenas do longa-metragem. A obra homenageia a imigração japonesa e a ferrovia, por isso, gravar no trem era essencial. “O filme se passa nos anos 1980 e trata da história de Elisa, uma sul-mato-grossense que cresceu em São Paulo, mas que resolve voltar ao Estado em busca de suas origens”, explica Tatiany Furuse, atriz protagonista e produtora executiva do filme que é dirigido pelo cineasta Miguel Horta.

O trem chegou à estação de Aquidauana pouco depois das 15 horas. A população se aglomerou no local para ver e fotografar a chegada usando telefones celulares. A última viagem vez que o Trem do Pantanal percorreu o trajeto Campo Grande- Aquidauana havia sido em 26 de janeiro de 2014. Depois disso, não houve demanda para percorrer os trilhos. Até que no sábado passado foi realizada a viagem de despedida do percurso.

Diante de tanta nostalgia, há quem não se convença que a linha será desativada definitivamente sem chance de volta. Mesmo porque a empresa Serra Verde está em busca de novas oportunidades para o negócio, tanto que acaba de incluir o Trem do Pantanal no projeto Trem é Turismo, da Associação Brasileira das Operadoras de Trens Turísticos e Culturais (ABOTTC) em parceria com o Sebrae. O consultor da Associação, Cláudio Oliveira, foi enviado para fazer a viagem de sábado e avaliar o trem. Ele explica que o programa visa aprimorar as operações turísticas elevando os padrões de qualidade no atendimento. “A ideia é promover ações que promovam trens turísticos e culturais e envolvam todos os negócios no entorno, como hospedagem, alimentação, artesanato e outros”, disse.

A linha Aquidauana-Miranda será reinaugurada em solenidade no próximo dia 6, prevista para às 13h30. O evento será na estação de Aquidauana onde o trem já está posicionado. O percurso até Miranda tem 70 quilômetros e deve ser percorrido em três horas de viagem. No dia seguinte, às 10 horas, o trem retornará para Aquidauana. Por enquanto, a ideia é começar com duas saídas por mês. Porém, a demanda pode ampliar este número. O valor da passagem é de R$ 90,00.

Os artistas que se apresentaram no Trem do Pantanal estão disponíveis para participar de eventos e shows. Igor Lopes pode ser contactado pelos telefones 9614-5470/9841-7929 e Harley Castro no número 9297-7329. O filme Sobá, Trilhos e Silêncio deve estrear em Campo Grande em setembro. Há um perfil sobre a obra no Facebook.

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