Menu
sexta, 26 de abril de 2024
Busca
praia parque cachoeiras
ENEM 2017 - REDAÇÃO

Tema da redação do Enem é 'Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil'

Tema da redação do Enem é 'Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil'

5 Nov 2017 - 15h23Por O GLOBO

O tema da Redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2017 é “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil". O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo exame, divulgou a informação em sua conta no Twitter logo após o fechamento dos portões.

Para o coordenador de Redação do Colégio de A a Z, Rafael Pinna, o tema segue a tendência dos últimos anos ao abordar uma questão relativa a um grupo marginalizado na sociedade, como aconteceu com as propostas referentes ao combate à violência contra a mulher, à intolerância religiosa e ao racismo.

— A aposta de um tema de inclusão de pessoas com deficiência é uma aposta que aparece há bastante tempo nos temas prováveis. Não chega a surpreender, até porque nos últimos anos tem uma tendência de falar de grupos excluídos e marginalizados. Não fugiu dessa lógica — avalia.

O educador afirma que os alunos precisam estar atentos para não fazer abordagens generalistas e fugir do tema. Segundo ele, é preciso lembrar que a proposta traz ainda a questão relativa à educação.

— O tema parece mais específico que nos anos anteriores. O aluno deve ter cuidado para não falar genericamente sobre pessoas com deficiência, ou sobre pessoas surdas. Ele deve falar sobre a educação para esse grupo.

LEIA MAIS: Conheça celebridades que têm deficiência auditiva

LEIA MAIS: Ambulante vende "água da sabedoria" em local de prova

LEIA MAIS: Candidato chega no horário, mas erra local de prova

Sobre a grande polêmica deste ano em relação à violação dos direitos humanos, o professor acredita que o assunto proposto pelo Enem não é tão suscetível a violações como os de anos anteriores.

— Fico feliz com o fato de não ter caído um tema que toque diretamente em questões que podem ser alvo de discursos de ódio e, que devido à suspensão do critério, estariam de certa forma autorizados na redação. Não me parece um tema que vai trazer grandes desafios, embora esteja em sintonia com os direitos humanos, já que fala sobre a necessidade de educação para todos e a própria constituição traz isso como um direito. É uma questão que dialoga com os direitos humanos, mas não envolve discursos de ódio — diz Rafael Pinna.

De acordo com o professor Raphael Torres, do Colégio Pensi e do QG do Enem, a surpresa do tema desta edição está no fato de algo tão específico ter sido abordado.

— Mais uma vez, vemos um tema sobre minorias, mas com um nível de especificidade que me surpreendeu. Primeiro pelo fato de realmente trabalhar com uma categoria que sofre invisibilidade social gritante: se analisarmos outras categorias que não têm visibilidade, os surdos têm menos ainda. Além disso, o tema deixa o Estado totalmente exposto. É uma questão que dá para "detonar" o governo com tranquilidade, abordando a falta de infraestrutura e de oportunidades de inclusão. Os candidatos precisam estar atentos ao fato de que o tema destaca a questão da formação educacional. Isso pode gerar confusão, assim como em 2015 quando o tema trazia falava sobre a "persistência" da violência contra a mulher — destaca Torres.

ACOMPANHE O TEMPO REAL DA COBERTURA DO ENEM

Especialista no assunto, Camila Machado — que escreveu o livro "Educação de surdos", publicado pela Editora Wak — avaliou positivamente a escolha do tema. Ela argumenta que é necessário fazer uma discussão mais profunda sobre a inclusão de pessoas com deficiência auditiva nas salas de aula do país.

— Desde a Lei da Libras, em 2005, que classificou esse idioma como Língua oficial da comunidade surda, a questão se tornou mais visível. Reconhecer a Libras como primeira língua foi um passo importante no que diz respeito à educação. Mas outra questão fundamental tem a ver com o currículo escolar. Precisamos de um currículo que atenda singularidades linguísticas e culturais dos surdos— afirma.

A educadora explica que o Estado falha em não direcionar o ensino para esse público específico:

— A Língua Portuguesa ainda aprece como disciplina normal no currículo dessa população, sendo que para os surdos ela é como se fosse um segundo idioma, e não sua língua materna. Na política de inclusão atual os surdos têm essa disciplina como primeira língua e não como segunda. Precismos de uma disciplina que atenda às regularidades gramaticais da Libras. Essas singularidades são um desafio na política de inclusão do nosso país.

Apresentadora do Ines (Instituto Nacional de Educação de Surdos) e professora de Libras da UFRJ, Clarissa Guerretta comemora a escolha do tema, mas lamenta que a maioria dos estudantes possivelmente terá dificuldades para abordá-lo.

— Muitas questões podem ser levantadas a partir disso, como o ensino de Libras na educação básica, a inclusão de surdos na escola e a política linguística e de tradutoria. Mas também fico triste com o provável despreparo dos vestibulandos.

Guerretta destaca que esta é a primeira edição do Enem com acessibilidade em Libras. Até agora, destaca, as barreiras linguísticas e de acessibilidade dificultavam a realização do exame pelos surdos.

Ana Maria Peixoto, uma das coordenadoras do Núcleo de Atendimento a Pessoas com Necessidades Específicas do Colégio Pedro II, assinala que, no ambiente escolar, fala-se muito sobre pessoas com deficiência física e visual, mas os surdos ainda são deixados de lado.

— Aqueles que são alfabetizados em Libras costumam ter maior dificuldade do que o resto da turma, porque trata-se de uma língua com estrutura diferente do português. É um universo ainda desconhecido para a maioria - explica. - Por esta dificuldade, muitas vezes os surdos ficam em grupos fechados e desenvolvem sinais próprios.

O Enem, assinala, abre novos questionamentos:

— Até que ponto a sociedade está fazendo o que deve, até que ponto consigo me colocar no lugar do outro e ser respeitado? Estes deveriam ser parâmetros básicos, e agora precisamos tratá-los e também apontar soluções. Para ter um bom desempenho na prova, os alunos devem pensar como é estudar os alunos na sala de aula.

Para Vanessa Neves, tradutora é intérprete de libras, o tema da redação do Enem pode trazer mais visibilidade para os surdos no país.

— Considero o tema magnífico porque mostra que os surdos estão sendo colocados e vistos pelo Brasil — diz Vanessa, que acredita ser preciso maior presença de interpretes, instrutores e professores surdos.

Segundo Walace Araújo, intérprete de libras, é preciso também material adaptado em todas as etapas do ensino. Ele comemorou o tema da redação.

— Vai ser um desafio para ou ouvintes e um desabafo para os surdos.

Nesta edição do Enem, pela primeira vez, candidatos com deficiência auditiva poderão fazer a prova com o apoio de vídeos que narram os enunciados na língua dos sinais — o que ocasionou a elaboração de dois exames distintos, mas que também serão aplicados nos dias 5 e 12 de novembro.

— Foram escolhidas questões com enunciados mais objetivos e que não demandem conhecimento auditivo prévio dos candidatos. O nível deste exame será igual ao de todos os outros que realizarão a prova nos mesmos dias — relatou ao GLOBO, em setembro, Eunice Santos, diretora de Gestão e Planejamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), autarquia federal que organiza o Enem.

SITE DO GLOBO TERÁ, AO FIM DO EXAME, CORREÇÃO AO VIVO E GABARITO EXTRAOFICIAL

Em um comunicado divulgado nesta tarde pelo Inep, o instituto comenta a escolha do tema para a edição de 2017 do exame:

"Deficientes auditivos e surdos que optaram fazer a Videoprova Traduzida em Libras, novidade desta edição, terão duas horas a mais de prova. É a primeira vez que o Enem é aplicado em dois domingos consecutivos e que as áreas de conhecimento são divididas dessa forma. Assim, a demanda cognitiva do participante está organizada de maneira mais inteligente e integrada", diz o comunicado.

NOS ÚLTIMOS ANOS, VIOLÊNCIA CONTRA MULHER, INTOLERÂNCIA RELIGIOSA E RACISMO

Além da prova de redação, neste domingo, os estudantes farão provas de Linguagens e Ciências Humanas.Os estudantes terão até 19h (no horário de Brasília) para resolver a prova, uma hora a mais que na semana que vem, quando serão aplicadas as provas de Ciências da Natureza e Matemática. Esta é a primeira vez que que o Enem é realizado em dois domingos consecutivos. Antes, a o exame era aplicado em apenas um fim de semana.

Nos últimos anos, os temas da prova vêm sendo bastante elogiados por educadores. Em 2015, os candidatos tiveram que escrever sobre a persistência da violência contra mulher no Brasil. Na edição do ano passado, foram dois temas diferentes. Na primeira aplicação da prova, os estudantes dissertaram sobre caminhos para combater a intolerância religiosa no país. Já na segunda, o tema foi caminhos para combater o racismo no Brasil.

Frei David, da ONG Educafro, que milita em favor do maior acesso à educação para jovens negros, avaliou que o Inep acertou ao manter a tradição de escolher um tema ligado à inclusão social de minorias. Ao mesmo tempo, observou, o tema da prova foi menos polêmico do que os das edições recentes do Enem. Dessa forma, reduziu-se o risco de provas desrespeitarem os direitos humanos.

— Foi muito oportuna a escolha desse tema. Tornou impossível qualquer pessoa provocadora querer ofender os direitos humanos usando os surdos. Os estudantes que foram com espírito de provocação foram desmontados — disse Frei David, que criticou a decisão da ministra do STF, Cármen Lúcia, de manter a liminar que impediu que redações que desrespeitem os direitos humanos tenham nota zero. — Estou decepcionado com essa decisão do STF. Acho que a ministra foi um pouco mal assessorada. Faltou ouvir outros ângulos e outras visões. Foi uma decisão equivocada.

Apesar de elogiar o tema, Frei David avalia que os estudantes provavelmente terão dificuldades de desenvolvê-lo com profundidade, dada a pouca informação da maioria sobre o assunto. Na avaliação dele, a inclusão de pessoas com deficiência e outras minorias é ainda subestimada nas escolas:

— Acredito que muitos alunos que estão hoje prestando o Enem hoje terão dificuldades de desenvolver com conteúdo uma boa redação porque esse tema não é trabalhado com responsabilidade pelas escolas em geral. Pouquíssimas escolas no Brasil trabalham o tema do surdo, do negro, do indígena, dos excluídos em geral, com profundidade. De forma que eu acredito que muitos alunos estarão mal preparados e terão dificuldades em desenvolver esse tema. 
 

Veja abaixo todos os temas de redação da história do Enem:

1998: Viver e aprender

1999: Cidadania e participação social

2000: Direitos da criança e do adolescente: como enfrentar esse desafio nacional

2001: Desenvolvimento e preservação ambiental: como conciliar os interesses em conflito?

2002: O direito de votar: como fazer dessa conquista um meio para promover as transformações sociais que o Brasil necessita?

2003: A violência na sociedade brasileira: como mudar as regras desse jogo

2004: Como garantir a liberdade de informação e evitar abusos nos meios de comunicação

2005: O trabalho infantil na sociedade brasileira

2006: O poder de transformação da leitura

2007: O desafio de se conviver com as diferenças

2008: Como preservar a floresta Amazônica: suspender imediatamente o desmatamento; dar incentivo financeiros a proprietários que deixarem de desmatar; ou aumentar a fiscalização e aplicar multas a quem desmatar

2009: O indivíduo frente à ética nacional

2010: O trabalho na construção da dignidade humana

2011: Viver em rede no século 21: os limites entre o público e o privado

2012: Movimento imigratório para o Brasil no século 21

2013: Efeitos da implantação da Lei Seca no Brasil

2014: Publicidade infantil em questão no Brasil

2015: A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira

2016: Caminhos para combater a intolerância religiosa no Brasil / Caminhos para combater o racismo no Brasil (houve duas aplicações do Exame)

PROVA CERCADA DE POLÊMICAS

Neste ano, a prova de redação foi envolvida em uma polêmica. Em outubro, a pouco mais de uma semana da realização da prova, a justiça impediu o Enem de anular redações que violem os direitos humanos. A decisão atendeu a um pedido do Movimento Escola sem Partido, que argumentou que a regra era injusta, subjetiva e prejudicava a liberdade de expressão dos alunos. Na ocasião, o Ministério da Educação (MEC) disse que " todos os seus atos são balizados pelo respeito irrestrito aos direitos humanos, conforme a Declaração Universal dos Direitos Humanos, consagrada na Constituição Federal Brasileira."

Após a decisão, o Ministério da Educação entrou com um recurso no Supremo Tribunal Federal (STF), mas a presidente da Corte, ministra Cármen Lúcia, manteve a suspensão do critério de anulação. Na sua decisão, Cármen defendeu que a liberdade de expressão estaria sendo cerceada pela regra do edital.

"Não se desrespeitam direitos humanos pela decisão que permite ao examinador a correção das provas e a objetivação dos critérios para qualquer nota conferida à prova. O que os desrespeitaria seria a mordaça prévia do opinar e do expressar do estudante candidato", afirma a presidente do STF.

A intervenção judicial suscitou dúvidas a respeito dos critérios que seriam avaliados na prova. No entanto, professores de redação explicam que, dificilmente, um estudante conseguiria fazer um bom texto, com argumentos sólidos e levando em conta as outras competências avaliadas, defendendo a agressão aos direitos humanos.

Nesta edição, o Inep detalhou pela primeira vez os critérios para avaliar uma possível violação de direitos humanos nos textos dos estudantes. Segundo o texto do manual de redação do Enem, considera-se " que determinadas ideias e ações serão sempre avaliadas como contrárias aos direitos humanos, tais como: defesa de tortura, mutilação, execução sumária e qualquer forma de "justiça com as próprias mãos", isto é, sem a intervenção de instituições sociais devidamente autorizadas (o governo, as autoridades, as leis, por exemplo)"

O manual cita ainda que " incitação a qualquer tipo de violência motivada por questões de raça, etnia, gênero, credo, condição física, origem geográfica ou socioeconômica; explicitação de qualquer forma de discurso de ódio (voltado contra grupos sociais específicos)" também serão considerados como violações.

Colaboraram Alexandre Rodrigues e Renato Grandelle

Leia Também

LUTO NA EDUCAÇÃO: Professora dedicada, Lucimara batalhou contra o câncer e fez história em escola LUTO NA EDUCAÇÃO
LUTO NA EDUCAÇÃO: Professora dedicada, Lucimara batalhou contra o câncer e fez história em escola
Prefeito e deputado discutem o lançamento de cursos de qualificação de idiomas aos guias de turismo BONITO NA CAPITAL DE MS
Prefeito e deputado discutem o lançamento de cursos de qualificação de idiomas aos guias de turismo
Rede Estadual de Ensino de MS segue com pré-matrículas abertas até o início de janeiro VOLTA ÀS AULAS
Rede Estadual de Ensino de MS segue com pré-matrículas abertas até o início de janeiro
Encontro Internacional de Observação de Aves em Bonito reforça referência de MS no segmento BONITO - EVENTO
Encontro Internacional de Observação de Aves em Bonito reforça referência de MS no segmento
UEMS de Jardim faz o primeiro Tribunal do Júri Simulado realizado pelo Curso de Direito UEMS DE JARDIM
UEMS de Jardim faz o primeiro Tribunal do Júri Simulado realizado pelo Curso de Direito
Prefeitura licita empresa para construção de quadra coberta na escola rural no Águas do Miranda BONITO - DISTRITO ÁGUAS DO MIRANDA
Prefeitura licita empresa para construção de quadra coberta na escola rural no Águas do Miranda
Dira Paes impressiona com boa forma durante banho de cachoeira meio à natureza em Bonito BOA FORMA AOS 54 ANOS
Dira Paes impressiona com boa forma durante banho de cachoeira meio à natureza em Bonito
O futuro brilhante começa com a escolha certa. Seja Funlec! Educação
O futuro brilhante começa com a escolha certa. Seja Funlec!
Lançamento! HJ Funlec Bonito esta com vagas de tempo integral na Ed. Infantil estagio 2.
Educação
Lançamento! HJ Funlec Bonito esta com vagas de tempo integral na Ed. Infantil estagio 2.
Festival de cinema leva produções de alta qualidade a Bonito (MS) BONITO - MS - CINEMA
Festival de cinema leva produções de alta qualidade a Bonito (MS)
Bonito Informa
Avenida 09 de Julho 2135 - Centro - Bonito/MS/MS
(67) 99638-6610rogerio@bonitoinforma.com.br
© Bonito Informa. Todos os Direitos Reservados.